Conto-"Assim é o meu lugar." [Tony Casanova]
Viloeste, pequeno povoado do interior de Sergipe, a quase duzentos quilômetros da capital Aracaju, estava em festa. Haveria comemorações da padroeira local e a população estava inquieta com os preparativos. Deveriam arrumar a pequena paróquia, as ruas, praças e a entrada principal da cidade. Ali residiam aproximadamente 400 pessoas contando com o padre Herílio, a autoridade religiosa de Viloeste. As mulheres estavam em polvorosa, faziam burburinho enquanto carregavam maços de flores para os enfeites. Como em todo ano a cidadezinha receberia visitantes de fora e isto significava muitas vendas de quitutes e iguarias feitas pelos moradores. Apesar da seca que rodeava a região, na cidade havia uma arborização regular com várias árvores frutíferas distribuídas ao longo da rua principal, uma pista de asfalto que cruzava a cidade.
Quando tudo estava preparado para o início das festividades, foram avisar o padre e fazer uma prece de agradecimento. Todos estavam reunidos na igreja quando Mima entrou sorridente. Logo foi chamada para o grupo. A moça disse que estava colocando as últimas flores na entrada principal e por isso chegara depois. Mima era filha de seu Túlio, um lavrador sexagenário muito influente por ali por ser muito prestativo a todos. Cabelos alvos, barba longa, vivia a discutir com a filha que queria aparar aquela barba de todo jeito. Orgulhava da filha parecer com ele, apesar de que ela era bonita, brincava sempre. A mãe, dona Caçula era mulher de 42 anos, prendada, conhecia todos os ofícios de casa e muito mais. Fazia os doces mais procurado pelos visitantes, eram os “Sonhos de mel”, iguaria que só ela fazia na região. Ensinara a Mima, que após o perfeito aprendizado, passou a ajudá-la nas vendas.
A cidade estava cheia de visitantes, era afinal o dia da festa de Santa Cecília, padroeira de Viloeste, que apesar do nome ficava no agreste semi-árido de Sergipe. Na barraquinha Mima não parava, atendia a todos com um sorriso nos lábios. O pai observava as duas mulheres da sua vida e sorria orgulhoso. Neste dia elas eram estrelas. O povoado se transformava durante aquele evento, ficava mais movimentado, feliz. As casinhas de alvenaria simples, típicas do interior foram pintadas para a ocasião. Foi a contribuição do prefeito de Jatobá, cidade de onde Viloeste era povoado. Ali estavam o aparato policial, três soldados, mais uma ambulância e um pequeno veículo dos bombeiros. Faziam parte da organização do evento. O cheiro das comidas típicas invadia as ruas; era milho cozido, assado, bolos, beijús, tapioca, mingaus, tudo preparado pelas mãos da prendadas moças do lugar.
A festa seguiu embalada ao som de músicas alegres e teve até a presença de duplas sertanejas locais trazidas pelo prefeito que estava presente na tribuna das autoridades, onde estava sentado o seu Túlio, pai de Mima. Foi assim que vi uma cidade transformar-se em festa e esquecer o sofrimento diário. Naquele dia aquele pequeno povoado no meio do nada, sediava uma festa que libertava seu sofrido povo das tristezas peculiares. No dia seguinte enfrentariam a força da seca, as terras sem verde, açude sem água, gado esticado no chão lascado. Era a volta da realidade sertaneja que deixava marcas na pele do povo, que riscava com rugas as suas faces e enchia de tristeza seus corações.
Texto do Escritor Brasileiro Tony Casanova. Direitos Autorais Reservados. Proibida a cópia, colagem, reprodução de qualquer espécie ou divulgação em qualquer meio, do todo ou parte dele sem autorização expressa do autor sob pena de infração ás Leis Brasileiras de Proteção aos Direitos Autorais.
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Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas, locais ou fatos terá sido mera coincidência.
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